26 setembro 2020
12 março 2011
Queria ser grande
30 julho 2010
Recomecemos
Não conserves lembranças amargas.
Viste o sonho desfeito.
Suportaste a deserção dos que mais amas.
Fracassasste no empreendimento.
Colheste abandono.
Padeceste desilusão.
Entretanto, recomeçar é bênção na lei de Deus.
A possibilidade da espiga ressurge na sementeira.
A água, feita por vapor, regressa da nuvem para a riqueza da fonte.
Torna o calor da primavera na primavera seguinte.
Inflama-se o horizonte, cada manhã, com o fulgor do Sol, reformando o valor do dia.
Janeiro a janeiro,renova-se o ano, oferecendo novo ciclo de trabalho.
É como se tudo estivesse a dizer: "se quiseres, podes recomeçar".
Disse, porém, o Divino Amigo que ninguém aproveita remendo novo em pano velho.
Desse modo, desfaze-te do imprestável.
Desvencilha-te do inútil.
Esquece os enganos que te assaltam.
Deita fora as aflições improfícuas.
Recomecemos, pois, qualquer esforço com firmeza, lembrando-nos todavia, de que tudo volta, menos a oportunidade esquecida que será sempre uma perda real.
EMMANUEL - ("Palestras de Vida Eterna" - Francisco Cândido Xavier)
14 julho 2010
Oração pelo perdão (em memória de futuros demolidos antes de...)
13 maio 2010
O homem, a casa e a tempestade
08 março 2010
Alles was ich wünsche...
que o vermelho sempre nos cerque
que nenhuma nuvem negra nos entristeça
que nenhum passaro escuro rompa esse laço dourado
Apenas passaros claros com asas brancas
devem nos trazer um pouco da eternidade
As noites nunca deverão tragar o dia
e o sol aquecido jamais deve se pôr
Ah, o mundo! Gostaria de presenteá-lo todo
Não quero pensar na despedida,
Num profundo mar de flores quero me afogar
E afundar nos seus olhos esse grande desejo
de que o amor permaneça
Tudo que eu quero está perdido
como o pobre amor que nos juramos
como os corações quentes que há muito congelaram
como as flores vermelhas que nunca mais florescerão
26 agosto 2009
Sobre a caridade e o amor ao próximo
Era um dia como outro qualquer e ela resolveu ir ao banheiro. A cabeça doía com a leve insistência daqueles que desejam algo, mas ela não dava atenção. O tempo era curto e havia muitas coisas por fazer - ela adiara a ida ao banheiro até o último minuto permitido por sua racionalidade. Ao entrar, dirigiu-se diretamente a um dos reservados, aquele que era o seu favorito, pois ficava estrategicamente isolado dos demais e que era todo diferente, fechado até o teto. Para ela, funcionava como se houvesse um banheiro privativo dentro do banheiro e ela desfrutava desse luxo sem a mínima modéstia. Fechou a porta e observou o ambiente à procura de algo que a pudesse observar - causavam-lhe calafrios o olhar gélido de lagartixas escondidas nos cantos, borboletas que entravam pela janela e se perdiam; na pior das hipóteses, poderia estar em companhia de uma barata. Nesse caso, ela teria que correr, pois não havia espaço suficiente em qualquer lugar do mundo para ela e uma barata: suas inicias nem eram G.H., oras! (pensava ela enquanto esboçava um leve sorriso, orgulhosa por sua sagacidade) - não tendo encontrado nada que a impedisse de fazer aquilo a que se propusera quando pensou em ir ao banheiro, baixou o assento e, maquinalmente, puxou um pedaço de papel higiênico e se pôs a limpá-lo com o papel seco. Ecologicamente incorreta que era, porque acreditava que, no íntimo, todos fazem algo pelo que poderiam ser duramente condenados se aquilo fosse divulgado, atirou dentro do vaso o papel. Este, mal terminara de cair lá dentro ao se despender das mãos dela, quando posou sobre o assento um pequeno inseto, inofensivo, daqueles que não esboçam a menor reação quando uma mão os tenta espantar, ou mesmo matá-los. ao olhá-lo, ela até se lembrou de algumas pessoas que tinham essa mesma passividade em relação a tudo. Sem raciocinar, puxou outro teco de papel higiênico e cutucou o bichinho, porém, empurrou-o para dentro do vaso. Por um momento, ficou paralisada com sua crueldade: ela observava o insetinho dentro do vaso, debatendo-se na água, tentando lutar pela vida. Sem maiores reações, sentou-se no vaso em busca da paz de que necessitava para executar seu serviço, mas ainda pensava no inseto. Seria justo que ela, dita dotada de inteligência e raciocínio, fosse capaz de operar tamanha maldade contra um ser inofensivo e que era visivelmente incapaz de se defender das atitudes dela? Além de atirá-lo ao fim, ainda despejava sobre ele uma tempestade de dejetos que não o ajudariam em nada. Talvez até fossem de alguma ajuda, caso ele mantivesse a atitude que adotara ao cair na água e utilizasse aquilo tudo como um meio de salvação - pelo menos, ele se livraria da água: aquele ser inerte se debatia e parecia lutar contra a morte sentenciada por aquele pedaço de papel higiênico e pelo gesto do deus que o atirou à própria sorte. Sim, ela pensara nisso: de modo que para esse pobre animalzinho, sou eu o deus? Não, ela não se sentiu orgulhosa, ao contrário, sentiu grande remorso: pela primeira vez ela se sentira gigante, mesmo em sua estatura mediana e com seu físico franzino, cobiçado pelas mulheres de seu tempo. Ela era gigante diante daquele que se debatia abaixo dela, num mundo escuro e com tempestades - chuva ácida - Lembrou-se de quando parecia que alguma força maior a botava em situações semelhantes, tirando-a da inércia necessária de cada dia, e ela rogava por ajuda do seu Deus, muito maior do que ela. Talvez, o deus a tivesse nomeado como sub-deusa, já que ele mesmo era grande demais para gerenciar coisas como aquele inseto, que mesmo diante dela, pequena, era quase imperceptível. De posse de seu novo cargo, pôs-se a pensar que, talvez, aquele bicho estivesse fazendo exatamente o mesmo que ela faria. Estaria o inseto rezando, enquanto se movimentava impaciente nas águas do vaso? Sim, ela estava perdendo o controle e ultrapassando os limites da sanidade. Mas, no fundo, ninguém podia ser são todo o tempo e disso ela sabia muito bem. Com a calma daqueles que se julgam minimamente justos, limpou-se, ainda sentada no vaso, e atirou mais papel no vaso. Levantou-se, ajeitou sua roupa e instintivamente lançou olhar para aquele que estava subordinado a ela naquele momento, entregue à sua mais absoluta vontade, e notou que ele ainda se mexia. Abaixou-se um pouco mais e notou que sim, ele estava vivo. Dotada de alguma compaixão, que era mais remorso do que qualquer outro sentimento mais nobre, ela apanhou um pedaço de papel higiênico, grande o suficiente para que seus dedos não chegassem perto daquela imundice, e com todo o cuidado, tocou no inseto com uma pontinha de papel, prendendo-o e, dessa forma, retirou-o das águas. Ela abriu, então, o papel e notou que, apesar de molhado, ele vivia. Ela o colocou calmamente no chão, a salvo da fúria das águas e das tempestades sobre as quais ele não tinha o menor controle. Deu a descarga e saiu sem olhar para trás. Naquele momento, sua vida talvez tenha se tornado melhor, já que ela corrigira o problema que causara a um ser menor e inofensivo e já que, por um momento mínimo que fosse, teve a leve sensação de que a mão que tira é a mesma que dá e que, por menor que ela fosse, haveria alguma certeza de que algo muito maior a salvaria sabe-se lá de quê. Tranqüilamente, lavou as mãos e voltou ao seu posto de trabalho, parando antes na máquina de café para saborear aquele café horrível, completamente esquecida de seu súbito ataque de caridade e amor ao próximo.