03 janeiro 2007

Dos restos do fim

Talvez eu já seja escravo. É incrível perceber que desaprendi muito daquilo que a vida me ensinou num tempo remoto em que em épocas como esta eu estaria já bronzeado e com as carnes salgadas. Parece que ir para o trabalho, camelar, almoçar, voltar para casa, nem sempre enfrentar congestionamentos enormes, parece que é tudo um nada. A sensação de inutilidade é companheira: é preciso viver! Mas como?? Onde está aquela paz que havia quando eu não tinha a real consciência de que estudar era realmente necessário e não algo que toda criança fazia por ser criança? Cadê a coragem de largar os livros num canto e vadiar, ouvir música, dar um rolê, ficar por aí, sem pensar em nada... Passar uma semana em casa sem se preocupar com as horas negativas que deverão ser pagas, aliás, sem pensar também nos carnês e nas contas que estão ansiosas pela autenticação mecânica do banco.
Hoje chove! E que divertido pode ser enfrentar as águas, pensar em mil coisas e brincar de fechar os difusores de ar para que o ar quente possa desembaçar os vidros... Embacei os vidros!
...Faz falta a correria e o desespero. Sou escravo do cansaço e acho que só posso ser feliz estando cansado porque sendo feliz não se sente o cansaço.
E então há aquelas pequenas fugas, pequenas coisas que fazem toda a diferença naquilo que é sempre tão igual. Desde que desisti de fugir de mim, as coisas parecem sempre muito iguais - qualquer faísca se torna uma esperança de um novo alvorecer e a verdade é que as coisas parecem apenas existirem porque queremos assim e, por querer, vemos a luz, mesmo que seja a luz daquele farol que vem contra mim e que vejo pelo vidro embaçado enquanto viajo perdido nas minhas idéias e pensamentos... ah, quanta besteira! Eu nem sei viajar!

"And turning out the light

I must have yawned and

cuddled up for yet another night

and rattling on the roof

I must have heard the sound of rain

the day before you came." ((B.Andersson & B. Ulvaeus))

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