16 setembro 2008

Proposta n°01

Proponho que sejamos apenas nós mesmos, supondo que isso seja algo totalmente alcançável a qualquer um que se preze. Proponho aceitarmos resignadamente a estagnação que se impõe - há aquilo que muda e cuja mudança é perceptível e há o que se agarra à condição de sempre para sempre poder retornar a ela ao menor sinal do novo. Proponho que ousemos não temer aquilo que é novo e que enterremos o velho, que queimemos as roupas velhas que só fazem entulhar o guarda-roupas, obrigando-nos a manter fora dele, empilhada, toda a roupa nova, limpa e passada, esperando, esperando... Proponho deixarmos de lado as doenças. Deixemos de lado a doença que nos faz apontar as doenças dos outros sem vê-las em nós mesmos. Proponho que assumamos nossa condição humana e imperfeita, que assumamos todos os nossos atos e todas as nossas intenções; proponho deixarmos tudo às claras, mesmo que esteja tudo submerso em nossa mais completa e absoluta falta de luz. Proponho que aceitemos nossa pobreza nua e crua e que procuremos conhecer e entender melhor as nossas limitações. Proponho não esperarmos por chuvas que não sejam de água e, eventualmente, algum granizo. Façamos a nossa parte, pois, sem esperar que o vento vente, ou que o sol esquente. Sigamos em frente, sem esperar que o curso de toda a humanidade seja alterado por nossa mísera vontade. Que somos nós, afinal? Um aglomerado de massa prestes a apodrecer e no qual não se pode confiar. Poponho que não confiemos, então, porque tudo é destruição e fim iminente. A única certeza é o fim destas vestes que carregamos por aí e que cobrimos com máscaras pesadas e lindas, mas que insistem em se deixarem cair ao menor descuido. Desprendamo-nos, de uma vez por todas, de nossa mesquinhez, desse eu que é apenas eu e que nunca pode deixar de sê-lo para ser tu, ele... Proponho que procuremos entender que aquilo que nos é óbvio nem sempre o é para aqueles que nos cercam, portanto, proponho que respeitemos inclusive os rancores e orgulhos alheios - lembremos da dificuldade que temos para vencer os obstáculos estão em nós mesmos antes de achar que as pessoas precisam ser completamente racionais conforme os nossos próprios ideais e, da noite para o dia, precisam aceitar que o melhor é sempre aquilo que dizemos, ou tentamos dizer. Proponho que façamos mais tudo aquilo que pregamos. Proponho-me, também! Proponho respeitarmos as feridas alheias que ainda estiverem avermelhadas, rompendo-se ao menor contato - lembremos, aliás, que nem tudo pode ser visto da mesma maneira e nem por um mesmo ângulo quando mais de um vê. Atrevo-me a propor que perdoemo-nos sinceramente por nossa total e completa pobreza, aquela mesma pobreza que vemos e apontamos por aí e que só nos é assim tão visível porque já nos é, de alguma forma, algo muito conhecido. (Aquilo que mais nos incomoda, provavelmente, é aquilo que mais fazemos por aí). Proponho, também, que deixemos de desconfiar de tudo e que nos deixemos, uma vez ou outra, guiar por alguma força que aparece de repente e que nos move a inovar e a descobrir novas sensações, risos e até mesmo lágrimas, raiva e escuridão. Proponho a intensidade em todos os nossos atos. Proponho o exagero em tudo e em todos os sentidos e acepções, para que tenhamos a breve idéia do dano que nos causa o excesso. Proponho que generalizemos tudo para chegarmos a: nada. Cheguemos a nós... Proponho alguma calma em meio a todo este vendaval, proponho (e torço para que exista) uma parede opaca que nos mantenha salvos de tudo aquilo que puder nos alcançar neste infinito labirinto de espelhos e que possamos, nele, continuar assim, paradoxos, estranhos, pobres, humanos. Proponho tudo, nada.

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