Orkuteando...
Faço parte da maçonaria dos que viram uma vez o ovo e o renegam como forma de protegê-lo. Somos os que se abstêm de destruir, e nisso se consomem. Nós, agentes disfarçados e distribuídos pelas funções menos reveladoras, nós às vezes nos reconhecemos. A um certo modo de olhar, há um jeito de dar a mão, nós nos reconhecemos e a isto chamamos de amor. E então, não é necessário o disfarce: embora não se fale, também não se mente, embora não se diga a verdade, também não é necessário dissimular. Amor é quando é concedido participar um pouco mais. Poucos querem o amor, porque o amor é a grande desilusão de tudo o mais. E poucos suportam perder todas as outras ilusões. Há os que voluntariam para o amor, pensando que o amor enriquecerá a vida pessoal. É o contrário: amor é finalmente a pobreza. Amor é não ter. Inclusive amor é a desilusão do que se pensava que era amor. E não é prêmio, por isso não envaidece, amor não é prêmio, é uma condição concedida exclusivamente para aqueles que, sem ele, corromperiam o ovo com a dor pessoal. Isso não faz do amor uma exceção honrosa; ele é exatamente concedido aos maus agentes, àqueles que atrapalhariam tudo se não lhes fosse permitido adivinhar vagamente.[...]Pois venho notando que tudo que é erro meu tem sido aproveitado. Minha revolta é que para eles eu não sou nada, eu sou apenas precioso: eles cuidam de mim segundo por segundo, com a mais absoluta falta de amor; sou apenas precioso.[...]Mas durmo o sono dos justos por saber que minha vida fútil não atrapalha a marcha do grande tempo. Pelo contrário: parece que é exigido de mim que eu seja extremamente fútil, é exigido de mim inclusive que eu durma como justo. Eles me querem preocupado e distraído, e não lhes importa como. Pois, com minha atenção errada e minha tolice grave, eu poderia atrapalhar o que se está fazendo através de mim. É que eu próprio, eu propriamente dito, só tenho mesmo servido para atrapalhar.{...]Já me foi dado muito; isto, por exemplo: uma vez ou outra, com o coração batendo pelo privilégio, eu pelo menos sei que não estou reconhecendo! Com o coração batendo de emoção, eu pelo menos não compreendo! Com o coração batendo de confiança, eu pelo menos não sei."
((Clarice Lispector))
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Meu olho sonha continuamente imagens mais belas que qualquer realidade.
((Georg Trakl ))
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Quando cantarmos o tempo das cerejas
e o alegre rouxinol e o melro zombador
Estarão todos em festa
As beldades terão loucuras em mente
E os apaixonados, o sol no coração
Quando cantarmos o tempo das cerejas
Soará bem melhor o canto do melro
Mas é curto o tempo das cerejas,
Quando vamos colher, sonhando,
brincos, cerejas de amor, em trajes idênticos
pingando sobre as folhas como gotas de sangue
mas é tão curto o tempo das cerejas,
pingentes de coral que colhemos sonhando
Quando for teu tempo de cerejas
Se fores um dos que temem as tristezas do amor
Evita as beldades
Eu, que não temo as penalidades cruéis,
Não serei poupado um só dia
Quando for teu tempo de cerejas
Também terás tuas mágoas de amor
Eu sempre amarei o tempo das cerejas
É desse tempo que guardo
no coração uma ferida aberta
E mesmo que toda fortuna me seja oferecida
Jamais será mitigada toda a minha dor
Amarei sempre o tempo das cerejas
E a lembrança que guardo no coração
((Jean-Baptiste Clément & Antoine Renard))
1 Comentários:
Ainda que não sejam textos de sua autoria, são textos que você seleciona e referenda ao divulgar.
Não dá para negar que, assim, eles acabam dizendo algo sobre você. Acho adequado que estejam no about me, portanto, pois a sua seleção implica a sua voz ali, subjacente, escondida... mas lá.
Sinto saudades do tempo em que eu blogava mais.
Agora falta tempo, ânimo, matéria.
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