10 fevereiro 2009

Um recorte...

... e então, dormir não era propriamente aquele descanso e aquela paz que se busca ao fechar os olhos e encostar o corpo em qualquer coisa que o sustente. O problema era justamente esse: dormir era uma rota de fuga, um desligar-se de um mundo opressor para entrar em outro, não menos surpreendente do que aquele do qual se fugia e o resultado era desastroso, pois as viagens oníricas costumavam trazer angústias e pensamentos para os quais não se arranjaria tempo no mundo real, já que todo o tempo disponível estava preenchido por coisas ditas importantes demais, tão importantes que mal sobra disposição para pequenos devaneios ao longo do dia, um longo dia sem fugas intencionais, do qual se escapava, por vezes, sem querer, e surpreendentemente transportados para longe, pegavamo-nos fugindo, submersos em sonhos e imagens que nem nossas eram direito e era aí que a realidade nos confiscava de volta, como sua propriedade que eramos, somos e seremos até que passemos a ser propriedade de outra força maior, da qual não se poderá fugir nem mesmo com toda a força de vontade do mundo. Enquanto isso, durmamos o sono que nos couber, e finjamos uma liberdade de pensamento que não nos pertence e dormir não será propriamente aquele descanso e aquela paz que buscamos e...

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