25 fevereiro 2009

Jag liv i ett sagoland

Era uma vez um mundo repleto de por ques, todos eles assim mesmo, separados, duvidando. Havia muitas perguntas e não havia resposta alguma, sendo permitidas, apenas, algumas poucas suposições a respeito daquilo tudo que se tratava de montar e construir ao longo dos dias, que eram excessivamente longos. Por conta disso, havia uma completa preocupação com o amanhã, cuja única coisa que era permitida adivinhar era: ele virá. Chovia, chovia muito, e o sol apenas existia como um pequeno consolo, porque era necessária alguma esperança em meio a tantos por ques sem porquês. E dessa maneira, sobrevivia-se. O mundo era mera sobrevivência, aguardando o amanhã. Viver é esperar. Buscava-se ocupar o tempo livre, abundante, pois quanto mais ocupações fosse possível ter, menor seria a ansiedade pelo tão esperado amanhã. E as atividades eram as mais variadas possíveis: desde o trivial, que sempre fora feito, mas que nunca tivera tanto valor como quando se percebeu sua importância no mascaramento do amanhã, até coisas inusitadamente novas. O medo do novo é quase o medo do amanhã, mas, por ser outro medo, é válido como objeto de troca. Viver é ter medo. Trocava-se, pois, um medo pelo outro. Por quê? Mais um... E tendo a mente ocupada entre tantas atribuições, vivia-se e, indiretamente, aprendia-se, simplesmente, a sentir. Sentia-se muito e, algumas vezes, demonstrava-se. A utilidade de ocupar todo o tempo viria à tona justamente quando se esperaria reciprocidade: não havia a reciprocidade e não havia tempo para esperar algo em troca por aquilo que era ofertado espontaneamente. Mas não havia tempo para pensar, portanto, não eram permitidas escolhas. O sentir era inconsciente, logo, não se escolhia sentir - sentia-se e se dava, mas não havia espera pelo retorno e, desse modo, vinha sendo construido o rascunho daquilo que se chamaria, mais tarde, perfeição. Havia no mundo aqueles que não eram perfeitos, e esses todos, juntos, constituiam uma somatória incalculável. A existência da imperfeição foi o principal empecilho encontrado pelos perfeitos, quando idealizaram aquele mundo que, apesar de seus por quês, era perfeito. Eles, então, perceberam que uma trasformação seria inevitável e começaram pela substituição do termo imperfeito pelo termo aprendiz, de modo que o mundo, já repleto de por ques, passou a ser constituido, também, de um sem-número de aprendizes. Como tudo aquilo que é experimental, começaram os conflitos e os aprendizes passaram a se digladiarem entre si: como não havia respostas, eles passaram a adotar aquilo que mais lhes fosse agradável como verdade e seu principal interesse passou a ser combater a verdade do outro e impor a sua própria como a verdade. Fizeram-se, daí, as brigas e guerras sem nenhum porque definido, exato, e, consequentemente, alguns aprendizes, em comum e raro acordo, passaram a chamar o mundo, que era agora imperfeito, inferno. A partir daí, as ocupações já não eram mais puro meio de distração e a espera pelo amanhã tornava-se insuportável. Decidiu-se escolher o que se sentia e, assim, os aprendizes passaram a enganar a si próprios acreditando serem donos dos próprios narizes e dos próprios sentimentos - resolveram mascará-los e ofertar apenas aquilo que acreditavam poder receber de volta. Coitados. Já se sabia desde o mundo perfeito que não era possível escolher. Havia o livre arbítrio, que, como descobriram mais adiante, não era assim tão livre e, por mais que se fugisse, o final era sempre um espelho que, na maioria das vezes, nada refletia. Alguns se desesperavam quando encontravam no espelho um vidro fosco e vazio, outros continuavam oferecendo e ofereciam tudo, embora nem sempre livres do desespero diante do espelho, nulo. Estes buscaram em algum momento montar em seu quebra-cabeças ao menos uma pista das respostas possíveis para um por quê. E não importava qual era esse por quê, pois todos eles, por não virem acompanhados dos porques, eram angustiantes e, também, porque a cada um dos que buscavam respostas interessava tão somente a sua própria pergunta. Só se buscava descobrir aquilo que era individualmente interessante. E nessa busca se perdiam os aprendizes que insistiam na sua própria luta com o espelho que nada refletia. Ocupavam-se, esqueciam, sentiam, pensavam, encontravam o espelho, perdiam-se e buscavam ocupação e, dessa forma entravam num círculo quase tão infinito quanto eles próprios e quanto o número de por ques que vagam soltos pelo mundo imperfeito sem respostas satisfatórias. Com o passar do tempo, alguns até encontravam pistas que eram tomadas como respostas e se davam por felizes até descobrirem que a chave que daria partida no motor que os guiaria pelo caminho estava obrigatoriamente numa nova pergunta, o que traria algumas conclusões possíveis: não há final, já que viver é estar num ciclo, começando, terminando, recomeçando; isso refuta a idéia de algo que valha para sempre; ora, se tudo funciona como um ciclo, não é possível a existência de algo que seja eterno, ou que acompanhe a eternidade do mundo de que tratamos, assim sendo, a felicidade dependerá unicamente do ponto observado e do momento em que se encara aquele espelho que nem sempre reflete (algumas vezes, parte dela pode estar até mesmo naquilo que o espelho reflete). Desse modo, os aprendizes viveram.

2 Comentários:

Blogger Filipe Ferreira; disse...

A minha busca agora é entender que ganho algo se conseguir ter alguns por ques (assim, separados) e que não devo me angustiar por não ter tantos porquês assim.

29/3/09 23:48  
Blogger Milasso; disse...

Viver é esperar. Viver é ter medo. Viver é estranhar e, algumas vezes, apenas acreditar...
Não comento sempre, mas leio e adoro!
bjs, saudade!

2/4/09 13:33  

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