02 fevereiro 2007

Minha reclamação?

A gente passa o tempo todo esperando que as coisas mudem e as mudanças se dão exatamente assim: é como quando a gente percebe algo de errado com a própria roupa e tenta fazer todo o possível para que ninguém note. Por um momento, a gente consegue abafar o que percebe, mas depois isso se torna parte de nós e não há como esconder, até porque não se foge de si.A gente se assusta com o que vê no espelho e tenta tapá-lo com as mãos. Isso talvez mostre que os adultos não são tão fixos e nem tão irredutíveis quanto se pode pensar. Não é possível agir com a condição "impune" que é concedida às crianças.Um dia, estas crescem e, adultas, têm maior consciência das mudanças a que estão sujeitas e passam a se punir abrindo mão de coisas, situações e sentimentos que poderiam torná-las melhores pelo simples fato de passarem a se preocupar com a opinião alheia, que, muitas vezes, tem só a finalidade de estragar o que poderia ser uma possível alegria por pura inveja, a incapacidade assumida.A liberdade é relativa: se há uma preocupação insistente com a prisão que a opinião dos outros proporciona, é inútil pensar em liberdade - ela é só fachada para justificar aquilo que está diante dos olhos todo o tempo e que, por este e por outro motivo qualquer, não se quer ver. ...Gosto. Mas nunca sei o que fazer das coisas de que gosto. É difícil saber o que fazer para manter aqueles que nos são importantes por perto e é igualmente difícil permancer perto de quem às vezes parece não querer ninguém por perto e de quem oferece boas pedradas a quem tenta a dita aproximação. É um mútuo exercício: é preciso aprender a não atirar pedras naqueles que amamos (sim, me atrevo a usar esse verbo pesadíssimo) e, do outro lado, é preciso aprender a desviar das pedras que são atiradas e até mesmo a recolhê-las para que deixem de ser armas. Dessa forma a gente se contamina ao mal do mundo - simplesmente por sermos parte dele. -Fugir é fácil, a chave está ali pendurada, ao alcance de quem quiser. Resta querer alcançá-la. Vale a pena alcançá-la e abrir a porta e fugir? Fugir de quê? Fugir de quem? É inútil fugir de vc mesmo, se é que me permite este comentário mais direto. E aí vem a solidão, que é o nome que o homem deu a algo que se sente quando a única companhia que se tem é a própria, aquela que é mais cruel porque esfrega na cara o tempo todo a verdade de que se tenta fugir quando buscamos a incomunicabilidade. Como a gente vê, a única companhia que teremos a vida toda é a nossa, só nós estamos conosco o tempo todo e a isso às vezes chamamos solidão. Sendo assim, sim, ela é inescapável e inevitável. E aí, então é que resta contar com a tal sorte: porque há coisas que dependem só da gente e não é preciso sorte para obtê-las: basta um pouco de coragem e de suor, mas estar, de fato, de mãos dadas com alguém depende de duas vontades e isso só a tal da sorte é que pode resolver e talvez os vazios deixem de ser tão vazios neste momento mínimo e inesperado, quase inacreditado pela pobreza que o ser humano adquire submerso no mundo. E voltamos, pois, à possibilidade do livre arbítrio, apesar das caras feias que possamos ver. Resta-nos escolher. It's just a thought...only a thought...