07 agosto 2007

O novo antigo

Às vezes, são permitidos alguns momentos de calmaria, em que não se busca desbravar novos caminhos: limito-me apenas a caminhar através de clareiras abertas, sem deixar de observar a paisagem ao redor. É simples assim: por vários momentos, tenho a sede do novo e saio em busca de novas fontes, cavo novos poços com as mãos e bebo do novo pelas mãos agredidas e sujas da terra de meus caminhos. Em alguns momentos, é prudente pegar um copo qualquer e abrir uma dessas torneiras que jorram o presente, o antigo tão antigo quanto nós mesmos. E é por isso que é permitida a calmaria: é preciso que todo o novo adquirido torne-se tão antigo quanto nós mesmos para que possamos almejar mais e para que sintamos a sede do novo novamente. Porque o conforto também cansa. Minhas torneiras jorram o novo, com um sabor estranho ao qual ainda não me acostumei e há ainda muito que absorver e muito proveito a ser retirado do novo que tenho antes que ele me alcance em minha antigüidade quase medieval, que tenta se modernizar e atingir o menor vestigio de modernidade que puder alcançar. Ela sempre será antiga e, portanto, sempre serei antigo. É besteira pensar em atingir algo e que isso me fará parar e descansar: o mundo não pára e seu trabalho consiste justamente em manter antigo tudo aquilo que é antigo para que o novo vá surgindo e com sua nova força, vá convidando os antigos a viverem as novidades, ou a desistirem do jogo... É preciso desistir, desatar nós, romper com o que nos impede de beber da nova fonte antes que ela desenvolva aquele mesmo sabor antigo de sempre. É necessário avançar, mesmo que não cavemos novos caminhos. Sigamos pelo pequeno trecho asfaltado que surgiu antes de cairmos novamente nos paralelepípedos e de voltarmos finalmente à terra e a poeira de onde viemos e para onde sempre voltamos.