05 maio 2007

Da eternidade e do Eterno

Ao que é infinito, meu eterno respeito. Talvez tão eterno quanto a cruel espera pelo que virá. E enquanto se epera por aquilo que não vem, ocupa-se o tempo com outras futilidades, toma-se outros caminhos, come-se em outros restaurantes, prova-se de outros vinhos... Ando pelo outro lado da calçada e me nego a entrar no túnel pelo simples prazer de me rebelar e ainda ousar experimentar da claridade e do ar que circulam lá fora. Espero, mas já não há o que esperar - é necessário observar o fluxo da água que circula (à qual não nos é permitido aprisionar de forma egoísta entre os punhos, posto que tudo aquilo que é aprisionado tende a escapar, mesmo que gotejando, escorrendo pelos dedos...) e então se escolhe observar de longe a água que escorre, circula, corre...o olhar navega pela água e se perde porque a perda é necessária, tão necessária quanto não ter. É necessário não ter para que tudo possa ter seu real valor quando vier após a espera e a luta. Mas se luta? E, se lutar significa perder o rumo, perder-se, perder, todos lutamos, da mesma maneira que aprendemos a andar, a falar, a tomar banho sozinhos e, depois, a fazer a barba. É concedida a alguns poucos a facilidade de não perceberem suas perdas e, em troca, ganham um falso sentimento de vitória e de sucesso. Idiotas. Aos pobres idiotas foi dito algum dia que o sucesso vem e que nunca se perde nada e por não verem tudo que perdem, acreditam mesmo que só ganharam todo o tempo. Pobres...não sobreviveriam se, por um pequeno momento, fosse-lhes permitido retirar as vendas dos olhos vazados e enxergar quão grande é seu sucesso: nulo.Talvez fosse melhor retirar destes miseráveis o conceito inútil de sucesso - digam-lhes, por tudo que lhes for mais sagrado, que é sempre - sempre - necessário abandonar uma coisa para ter outra, abre-se mão disto para ter aquilo e aquilo por que se espera tanto virá, de um meio ou de outro. Virá? A ilusão de que se tem aquilo por que se passou uma eternidade esperando, esta virá aos saltos e de braços abertos. Atrás dela, vira o sucesso. Meu eterno respeito ao incompleto, àquilo que falta, pois é só pelo que falta que ousamos esperar, escolher, entregar, libertar, mudar, porque é mudando que se encontra e é encontrando que se perde e é perdendo que se vive a ínfima eternidade até a morte. (e, diz-se, é morrendo que se vive para a vida eterna(!!!)). Amém.